Dás música aos meus ouvidos
e vou riscando da vida o que não me interessa
o que já não me preocupa,
aquilo que todos os dias espezinho a caminho não sei de quê...
Deixa-me.
Deixa-me saborear as palavras que saem da tua boca pela última vez.
Respirei ilusoriamente o sentir de cada pulsar do teu coração. E então tu paraste!
Merda de vida, aquela em que continuas a aprisionar os outros, com as tuas delícias e encantos.
Escondo-me no beco escuro, que antes fora de loucuras; fujo em corrida caminhada, a ouvir tão perto do ouvido, como longe do pensamento, aquele murmúrio agudo da tua mente, a gritar que já não consegue mais. Que de nada serve o 'nada'.
Que os 'tudo' não existem.
Que os dias nascem, mas quem os aproveita desfruta de algo que não é comum aos simples mortais errantes como nós.
Partiste. Pairam pedaços da tua música no rádio do meu quarto. A guitarra abandonada e sólida continua na minha cama, espera por ti, pelas tuas mãos delicadas, para darem notas que sozinha não consegue atingir.
És o passado não esquecido e inevitável. Mas enquanto continuas a cantar tu já não és meu, eu já não sou tua. Completos estranhos, com corpos e memórias antigamente unidos. Meu corpo já não pede por ti. Deixaste sede na minha garganta, para jamais ser curada.
Cala-te.
Quero ouvir no silêncio. . .
Escutar na ausência da tua voz, o futuro sem rumo que me aguarda.
Será?
(o texto é fictício qualquer semelhança com a realidade é meramente coincidência)