Relembro noites fugidias.
Sentimentos em vão.
Paixões fugazes.
E momentos efémeros.
A noite está fresca assim, enrolados numa manta a contemplar as estrelas no céu, a lua em quarto crescente, aviões em voos fora de horas. E os dois rimos para o céu. Estupidez momentânea, de reparos sem nexo. Os teus olhos brilham, mas tu já não vês mais nada. Puxas-me mais para junto de ti, enrolas os dedos nos meus cabelos e com a outra mão afagas o meu corpo, apertando-o contra o teu. Ao longe a noite deixa de ter os seus contornos (ou sou eu que já não os vejo) e a lua esbate-se pelo resto da noite. A chama da vela apaga-se e a cera escorre simples e breve. Tu sentes o sabor da minha pele, eu deixo-me esconder em ti. Arrepias-me a nuca, respiras tão docemente perto dos meus lábios e roubas-me outro beijo. E eu encaminho-te, deixo que sejas predador no meu próprio território. E assim os teus ombros começam a ficar desnudados, a porta está no trinco, mas eu nem me importo, e tu puxas-me uma vez mais; peças de roupa espalhadas aleatoriamente pelo chão. Já só sinto o teu toque na minha pele; (lá fora um pássaro canta, mas a melodia soa tão repentina e triste, que me desligo.) Perdes o controlo, libertamos as amarras, e eu sinto o roçar singelo dos teus cabelos no meu peito, as tuas mãos exploram o meu corpo, como lugar desconhecido e agradável. Corpos enrolados em véus de cumplicidade, bocas molhadas e sentimentos unidos, entre pessoas tão opostas, mas ao mesmo tempo tão iguais naquilo que desejam fruir. Perco-me na lembrança dessa noite, de ti a entrelaçar-te em mim para dormir, do teu braço sobre o meu ventre, das tuas palavras doces sussurradas ao meu ouvido, dos meus dedos a brincarem com o teu cabelo, como se fosses meu, como se pertencesse-mos um ao outro . . .
Sim eu sinto falta de ti ...os teus contornos,
os teus cabelos,
o teu cheiro,
o teu olhar . . .