"É desperdício de alma vergonhoso
A luxúria em acção; e o desejo
É falso, sanguinário e criminoso,
Selvático, extremista, malfazejo;
Gozado e desprezado de seguida;
Loucamente anelado; e, satisfeito,
Logo se odeia, é isca deglutida
Que só p'ra endoidecer foi posta a jeito;
E louco faz quem a persiga e vença:
Ao tê-la, antes de a ter, e já tragada;
Bênção em perspectiva; ao fim, doença;
Antes, só alegria; depois, nada.
Tudo isto o mundo sabe, mas não há
Quem fuja a este céu que inferno dá."
William Shakespeare
In 'Os Sonetos de Shakespeare' por Jorge, Maria do Céu Saraiva; 1962
Aqui está um poema que achei bastante interessante. Há algo na escrita de Shakespeare que prende sempre a minha atenção, seja pelo assunto abordado, pelo modo de revelar o que pretende dizer ou até mesmo pela maneira como me faz reflectir sobre a vida. . . Este é um exemplo disso. Existem certas coisas que não se afirmam, não se expõem, não se explicam, ou que não se tem coragem para admitir. A efemeridade das coisas faz com que os momentos de alegria e felicidade não se possam prolongar para sempre, porque tudo tem o seu ciclo.