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". . . . Essas palavras tristes e desorganizadas escondem as lágrimas que eu espero que tu nunca vejas . . . ."







quarta-feira, 18 de abril de 2012

things changed

Costumamos dizer que todas as mudanças são para melhor, que a cada dia que passa as coisas têm tendência a ser aperfeiçoadas, que o impossível torna-se concretizável apenas com o desejo e pensamento forte. Mas as coisas na vida não são tão lineares quanto isso, de um momento belo pode passar-se rapidamente a um futuro triste e sem opções. Erros que nos custam lágrimas de dor. Pensamentos que nos fazem soluçar a cada palavra que ouço em músicas, que me lembram de tempos e memórias que não quero. Eu já esqueci o que sou, não me reconheço em todos os dias que passam, e pouco a pouco vou sendo uma estranha até para mim mesma. Não sei como agir, me pronunciar, abrir os olhos em cada dia e sorrir, quando o que me apetece é chorar e não voltar a acordar. O sentido que havia já não existe. Apagou-se da cabeça o que era.. O que fui, o que foste. Eu já nem a mim me pertenço. Sou uma alma sem apegos (nem a mim mesma). Desloquei-me da realidade e dou por mim a rir, mas nem rio do que dizem, rio de mim mesma, do ser estúpido e impensante que tem cabimento dentro do meu corpo. Afoguei todas as mágoas e desgostos, mas mesmo assim, alguma sensibilidade descabida ainda habita em mim. Dou pelas horas a passarem e apercebo-me que a vida não é nada, quando nem eu me endireito nela ou simplesmente deixo morrer tão doce e melancolicamente nos meus braços uma vida, como no outro dia aconteceu. Perco-me nos sonhos de infância, em todos os meus antigos ideais, e volto a ser a menina, a que chorava, a que sofria, a que era esquecida por muitos, a que engolia a tristeza aos olhos dos outros, mas que por dentro se dilacerava como se fosse grande. Maturidade interna, e fragilidade e criancice aparente. Engraçado como os pequenos são os que mais conseguem enganar, omitir o sofrimento. Horas sem dormir, numa mente tão pequenina, e contudo tão alerta para o quotidiano, as tragédias, os momentos de outros tempos. Tenho saudades. Não desses tempos, mas da criança que deveria ter sido, da infância que deixei escapar em anos de racionalidade excessiva e incondicional. De fragmentações da minha pessoa, a tentar ser alguém que nunca fui. Nunca o suficiente. Sempre esse o pensamento. Mas eu continuo sempre no quase. E hoje já não sou eu, mas também já não sou a menina. Sou uma realidade obliqua, um conjunto de estilhaços de personalidades e pensares que julgo, ou me foi incutido ser, pela minha própria racionalidade. O relógio dá as horas uma vez mais. Deixo-me levar pelo som urbano e às vezes convenço-me que não sou deste mundo. Faltam-me as energias no limbo do horizonte, dá-me sede só de ver um azul tão puro no céu, que não consigo alcançar. Doem-me os olhos de um arder constante de cada vez que vejo passar por diante sonhos, em pequenas bolhas de ilusão, consumidas por labaredas de credulidade inatingível. Espero. (Uma vez mais). O vento entra pelos bordos da janela, leva para longe as minhas palavras, assim como levou o meu ser emocional e cheio de fé num amanhã um pouco mais rosa, ou melhor, mais branco, porque é na brancura que se sente o resfolgar da vida. (Não fossem as pessoas puras de coração afinal as mais felizes no mundo.) Inundem-se os pulmões do respirar puro da minha tão imprópria natureza. Por hoje vou embora, não eu, mas aquela que escreveu... eu ando noutra realidade embrenhada em pensamento e conexões, que me fazem esquecer um pouco mais de hoje, do ontem, do que penso que fui e tive, ou que ainda vou ter. 

4 comentários:

  1. Acho que a certo momento das nossas vidas todos acabamos por ter períodos desses, mais confusos, mais intensos, mas acabamos sempre por aprender uma lição que nos inspira e dá força para continuar :)

    Beijinho*

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  2. Tens de ter calma! Estou de acordo com a pretty in pink, acho que todos nós (quando somos muito racionais, quando pensamos de mais, por vezes) temos momentos assim ... e custam a passar ... mas são ultrapassáveis! Faz um esforço, porque esse tal impulso que te vai dar alento e mais força para continuares vai aparecer a qualquer momento. acredito que agora custe. acredito que agora tudo pareça sem sentido e sem nexo. mas vá, anima-te mulhéri! Tenta tirar partido de todos os bocadinhos ...

    Beijinho =) *

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  3. Oh amiga, que texto tão profundo!
    Sabes, que se precisares estarei aqui! <3
    Força! =) Beijinhos!

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  4. Já me senti exatamente do jeito que escreveu! Parecia que a realidade sempre seria uma zona de frustração insuportável e meus devaneios eram o único refúgio... Mas, para o que serve de consolo, às vezes a fragilidade é um sinal de que estamos mais vivos do que o resto das pessoas automatizadas em seus pequenos dilemas e rotinas.

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