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". . . . Essas palavras tristes e desorganizadas escondem as lágrimas que eu espero que tu nunca vejas . . . ."







terça-feira, 8 de março de 2011

outro dia vi uma criança a chorar


Outro dia percorri o parque pela primeira vez este ano, mas pareceu-me que tudo havia mudado. Ou terei sido eu que mudei? Olhei para os cisnes no lago e interpretei a fragilidade do meu pensamento, no momento em que comecei a fraquejar em relação à realidade. Em vez dos cisnes, já via aquele jardim colorido que em tempos eu podia estar. Percorri então os mesmos carreiros e dei de encontro àquele campo que tanto escutou os meus pequenos segredos; ao fundo estava uma criança acocorada no chão.. . . .via-se a curiosidade infantil espelhada nos olhos, que devoravam toda aquela harmonia como se de fome se tratasse. Com cuidado apanhou a débil flor colorida que ali se encontrava sozinha no meio de tantas outras altivas e ausentes de pigmentação; levantou-se cuidadosamente e começou a chorar. Não entendi o porquê daquela mudança súbita de sentimentos, mas depois apercebi-me da razão de tal entristecimento. Morosamente dirigiu-se àquele monte de terra com uma cruz de madeira que se esconde por detrás de uma árvore. Ai encontrava-se também um pequeno papel colorido que ao inicio não conseguia visualizar, mas aproximando-me um pouco mais apercebi-me que era uma foto antiga, já algo esmorecida talvez pela luminosidade constante do sol. E ela colocou a flor, deitou-se ao lado no campo (em ervas já adaptadas ao seu minúsculo corpo) e adormeceu instantaneamente. O meu coração começou a bater descompassadamente e as lágrimas começaram a cair pelo meu rosto abaixo, em soluços sufocantes que não me deixavam respirar. Na minha mente começaram a passar imagens de um passado tão longínquo quanto a minha existência. Veio-me à memória aquele dia tão trágico em que percebi que a vida não era justa e que todos os episódios vividos não davam para voltar atrás. Sonhei numa outra alternativa para que tudo não acontecesse. E então esmoreci, porque nunca há volta atrás. A noite chegou e tudo escureceu. Outro dia vi uma criança a chorar e essa criança era eu. 


5 comentários:

  1. há alturas em que revivemos a nossa infância como se ela fosse a nossa realidade actual, não é ?
    As vezes gostava de ser criança outra vez, e de chorar por todas as banalidades que não doem no coração, só por isso mesmo : por não doerem a sério no coração.

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  2. às vezes sim, era bom voltar atrás . . .era tudo tão simples . . .
    de nada *

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  3. Faço das palavras da Jo as minhas :)
    Adorei!

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