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". . . . Essas palavras tristes e desorganizadas escondem as lágrimas que eu espero que tu nunca vejas . . . ."







sábado, 4 de fevereiro de 2012

Acaso



       Andei eu hoje a remexer nalgumas coisas que tinha na garagem, quando para minha surpresa me aparece o livro de  Português do12º ano à vista. Ai que saudades eu já tinha de Pessoa!! Momentos nostálgicos quando relembrei as aulas que demos de Camões, Pessoa e Saramago. Na minha memória, ao reler algumas páginas, vieram frases, tópicos e características, que estavam pelos cantos da minha mente escondidas. Despoletou-se aquele fogo em mim de querer devorar poesia até me arderem os olhos. Coloco aqui um poema que na altura me despertou muito interesse de Álvaro de Campos (um dos heterónimos de Fernando Pessoa). É magnífico o modo como consegue engendrar de tal modo um pensamento que todos temos, relaticamente a 'acasos' diferentes, consoante as nossas vidas. Veja-se então o individuo no meio de uma realidade mudada, mas que no final, reflectindo um pouco, chega à conclusão que afinal o resto não mudou, a não ser ele mesmo

"No acaso da rua o acaso da rapariga loira.
Mas não, não é aquela.
A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro.
Perco-me subitamente da visão imediata,
Estou outra vez na outra cidade, na outra rua,
E a outra rapariga passa.
Que grande vantagem o recordar intransigentemente!
Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga,
E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta.
Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso!
Ao menos escrevem-se versos.
Escrevem-se versos, passa-se por doido, e depois por gênio, se calhar,
Se calhar, ou até sem calhar,
Maravilha das celebridades!
Ia eu dizendo que ao menos escrevem-se versos…
Mas isto era a respeito de uma rapariga,
De uma rapariga loira,
Mas qual delas?
Havia uma que vi há muito tempo numa outra cidade,
Numa outra espécie de rua;
E houve esta que vi há muito tempo numa outra cidade
Numa outra espécie de rua;
Por que todas as recordações são a mesma recordação,
Tudo que foi é a mesma morte,
Ontem, hoje, quem sabe se até amanhã?
Um transeunte olha para mim com uma estranheza ocasional.
Estaria eu a fazer versos em gestos e caretas?
Pode ser… A rapariga loira?
É a mesma afinal…
Tudo é o mesmo afinal…
Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo, e isto é o mesmo também afinal."
Álvaro de Campos

9 comentários:

  1. Ainda tenho essa matéria bem presente... =)
    Beijinho*

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  2. Podes crer!!! 12º é totalmente Fernando Pessoa, e o que eu gostei de estudar a vida e obra dele :D
    Essa imagem esta mesmo gira :D

    Beijinho*

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  3. Que vontade que este post me despertou em ir também eu abrir gavetas desses tempos e recordar as aulas de Português que eu tanto gostava.
    Boa escolha do poema =)*

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  4. A gente sempre se surpreende ao remexer em coisas guardadas. Adorei o post. Beijos!

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  5. Adorava (e ainda adoro) Ricardo Reis e a sua filosofia do "Carpe Diem" :)))
    Que saudades das aulas de Portugues!
    Querida, respondi ao TAG q me deste. Mais uma vez, obrigada! Da uma vista de olhos no meu blog.
    Beijinhos***

    http://insidemywardrobeblog.blogspot.com/

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  6. Sou uma amante de Pessoa, especialmente o heterónimo Alberto Caeiro.:)
    Hoje também mexi nos meus livros antigos e bateu saudade dos tempos fáceis de escola.
    *

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  7. Adoro o teu blog, já o sigo!
    Passa no meu e segue-o também! :)
    Tenho uma proposta de part-time ideal!
    Não nos ocupa tempo nenhum, não temos obrigações, não temos de ter experiência de vendas, basta mostrar o catálogo (ele vende-se sozinho, basta mostrar...) e ainda temos descontos em todos os produtos ;)
    Beijinhos***

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  8. Fernando Pessoa é MARAVILHOSO!!
    Guardados sempre tem algo de tesouro!!!

    Beijinhos Iluminados!!

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